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É desse jeito que vivem os brasileiros que moram em área de disputa territorial com o Uruguai

A linha pontilhada que serpenteia pelo mapa, desenhando um triângulo invertido nas proximidades de Santana do Livramento, não é apenas uma fronteira entre Brasil e Uruguai. É um território contestado, onde a disputa secular se reflete na vida cotidiana de seus habitantes, criando um cenário tão pitoresco quanto complicado.

Este conflito, sem status claro, é uma zona de conflito histórico, semelhante, em sua própria escala, à Faixa de Gaza. 

Mas aqui, no extremo sul da América, a batalha não é travada com armas, mas com a persistência de comunidades resilientes e a interdependência entre brasileiros e uruguaios.

Realidades que se confrontam

A fronteira divide duas vilas com realidades contrastantes. No lado uruguaio, Masoller ostenta um ar de modernidade: três antenas de telefonia celular, uma lan-house, telefonia fixa e uma clínica de saúde com visitas médicas periódicas. As estradas asfaltadas garantem fácil acesso à capital provincial, Rivera, e até Montevidéu.

Cruzando a imaginária linha, o visitante se depara com Vila Albornoz, Brasil, onde o tempo parece ter parado no século 19. Conectada a Santana do Livramento por 74 quilômetros de estradas pedregosas e esburacadas, a vila brasileira não conta com sinal de celular, internet, posto de saúde ou guarnição policial. A paisagem é dominada por vaqueiros a cavalo e fazendeiros em caminhonetes robustas.

Interdependência das fronteiras

Apesar das diferenças, a vida na fronteira forjou uma relação de interdependência entre brasileiros e uruguaios. Brasileiros utilizam celulares e serviços de saúde uruguaios, e, em ausência de delegacias locais, registram queixas criminais na polícia uruguaia. A troca de mercadorias também é comum: uruguaios fazem compras em mercados brasileiros e vice-versa.

A professora Marta Quevedo, que leciona na Escola de Ensino Fundamental Vila Albornoz, ilustra a convivência peculiar. Com apenas 16 alunos, a escola recebe crianças uruguaias quando as vagas em Masoller são insuficientes. Muitos alunos chegam a cavalo, devido às difíceis condições das estradas.

Brasil é o país do povo

Os desafios de viver numa região tão remota são muitos. Fábio Cabral, um estancieiro brasileiro casado com uma descendente dos fundadores de Vila Albornoz, resume a situação: “No lado brasileiro, onde administro a fazenda, levo 30 minutos para fazer seis quilômetros em função dos buracos da estrada”

Ele utiliza uma caminhonete Hilux comprada no Uruguai por um preço significativamente menor que no Brasil e escoa sua produção agrícola pelo território uruguaio, onde as estradas são melhores.

Apesar das adversidades, Cabral é categórico em sua escolha de vida: “Mas não troco isso aqui por nada. Apesar das dificuldades, é Brasil, o meu país”.

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